
Cenário: num ponto qualquer da gringolândia, dois deles conversam sobre um dry martini. Ambos parecem-se muito com o atual presidente dos EUA, mister GWB. Um diz para o outro: - Sabe, Jack, dá muito trabalho traduzir as coisas para o resto do mundo. Não seria melhor que todos falassem inglês?
- Seria, Bill.
- Pois é, que tal começar a fazer isso na nossa empresa?
- Boa idéia, Bill.
As marcas e slogans que ilustram esta página foram tiradas de revistas brasileiras, no Brasil. Elas mostram uma tendência asinina das multinacionais presentes no país de usar - aqui - os seus slogans escritos em inglês.
Escrevo asinina - e provo: tenho os dados de uma pesquisa do IPSOS, feita em 4 capitais brasileiras, demonstrando que é da ordem de 10% o índice de conhecimento de inglês pela população em geral.
Em outras palavras: Nestlé, ABB, HP, Intel, Hamburg Süd, Nokia, Panasonic, Philips, Timberland (Alpargatas), Volvo e Unibanco, por sua própria vontade e decisão, estão deixando de comunicar-se com 90 por cento da população do país.
Posso entender o Unibanco Private: certamente 100 por cento dos clientes com contas superiores a 1 milhão de dólares entendem inglês e muitos nem falam português. Também quase perdôo a Alpargatas, que importa os calçados Timberland e quer torná-los sofisticados para uma freguesia de alto nível, embora haja outras maneiras de obter o mesmo resultado sem ser incompreendida.
Mas - francamente - a Nestlé! Uma empresa que nem americana ou inglesa é, mas suíça (e lá se fala alemão, francês, italiano e romansch); está presente no Brasil há quase 100 anos e vende seus produtos para todas as classes sociais. Como Good Food Good Life?? Assim, irão para o inferno do esquecimento.
(Purina também pertence à Nestlé. Considerando que muita criança cuida de bichos de estimação - pets -, o grau de compreensão do slogan idiota deve ser ainda mais baixo.)
A mesma bronca vale para a Philips - uma empresa holandesa, que foi recebida com carinho no Brasil (meus avós tinham rádio-vitrola Philips) e agora faz uma tratantada dessas, de virem com esse papo de Sense and simplicity?
HP, Intel, Nokia e Panasonic - empresas especializadas, de uma ou de outra forma, em comunicação - demonstram que não sabem se comunicar.
E - finalmente - a Volvo, também, coisa feia. Uma empresa sueca, que sabe como é duro ser minoritário no mundo em matéria de idioma, podia ser - ao menos - solidária com a nossa lusofonia. Além disso, quantos caminhoneiros, no Brasil, falam e compreendem inglês?
Mau-caratice - Todos sabem que, nas eleições do primeiro turno, um pequeno avião colidiu com um prédio em Nova York, causando um princípio de pânico na cidade onde ocorreu a tragédia das torres gêmeas.
Digo “princípio” porque rapidamente todos ficaram sabendo que se tratava de acidente mesmo e não de mais terrorismo.
Alguns canais noticiosos - contudo - preferiram fingir que não sabiam, para promover seu maldoso entretenimento. Como a Oi (da Telemar, uma multinacional), que, às 17h46, muito tempo depois do acidente, ainda mantinha no seu site o texto alarmista.
Suicídio - A J&J, tradicional líder em fios dentais, tomou uma decisão suicida: todos os tipos de fios passam a ser de fibras, portanto, partem-se ou agarram nos dentes (eu sei, porque sou - era - usuário). Conseqüência: estão perdendo rapida-mente share, como atesta a foto, feita no supermercado. Se não reverterem a decisão (certamente tomada na matriz, que só fala inglês), em breve estarão fora do mercado.
Por José Roberto Penteado
Revista Propaganda. Número 668.