Por Ricardo Cavallini
Toda vez que falo sobre a promessa do marketing no celular sinto grande resistência por parte de alguns. É compreensível, pois mesmo com sua boa penetração, a maioria absoluta (80,36%) dos contratos é de planos pré-pagos. Além disso, é de se esperar que para essa parcela os celulares sejam dos modelos mais simples.
Mas o histórico está a favor: pesquisas feitas pela indústria mostram que os consumidores trocam de celular a cada 14 meses. É um número animador. Assim como hoje celulares com câmera e telas coloridas não são mais caros, daqui a três anos um aparelho low-end terá as mesmas características (e talvez até mais avançadas) que um hi-end de hoje.
Dessa forma, a renovação deve nos trazer em poucos anos cerca de 100 milhões de assinantes aptos a fazer todo tipo de ação de marketing. Cito três exemplos: a interação com o ponto-de-venda através de bluetooth ou códigos de duas dimensões; o vídeo das novas gerações e com o advento da TV digital; e até mesmo novos modelos de assinatura ou serviços com novas formas de pagamento via RFID ou outras formas de mobile payment.
Dito isso, o fator que eu entendo como maior obstáculo não é sobre limitação técnica dos aparelhos, mas sim a questão da usabilidade. O celular está cada vez mais complexo e difícil de ser usado. A cada geração eles vão ganhando novas funções e ficando mais difíceis.
Tarefas que já deveriam ser simples há muitos anos, como enviar um MMS ou sincronizar com seu computador, continuam árduas e penosas. A maioria das pessoas, quando precisa configurar alguma função no aparelho, acaba demorando alguns minutos mesmo sendo uma tarefa que já havia feito anteriormente. É o caminho contrário da internet, cujos sites, protocolos e serviços estão cada vez mais fáceis e acessíveis ao consumidor comum.
Não falta capacidade técnica dos fabricantes, falta visão de mercado. Falta olhar com humildade para outras indústrias e ver como produtos com bom design e boa usabilidade foram bem-sucedidos. Um exemplo: o sucesso estrondoso do Wii, novo videogame da Nintendo. Ele mostrou que o segredo está no uso e não em uma tabela de features ultra-avançadas, como alta resolução e processamento poderoso.
A entrada da Apple nos celulares poderá mudar esse rumo. Assim como o iPod, o iPhone não será o aparelho mais avançado de sua categoria. Não tem a melhor câmera nem uma tabela de features de dar inveja, mas terá o DNA da Apple para criar produtos fáceis de usar. Sua boa usabilidade e seu bom design devem fazer do iPhone - criado por uma empresa que não entende nada de celular - o maior sucesso de vendas de aparelhos até hoje, botando no chinelo os que se julgam os verdadeiros sabichões.
* Ricardo Cavallini é consultor de marketing e autor do livro “O Marketing Depois de Amanhã” (Editora Digerati Books)
www.revistamarketing.com.br
Postado por Laíza Bulhões, estudante da Unifacs do curso Comunicação e Marketing - 2º semestre.
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